domingo, 8 de maio de 2011

Homenagem ao meu professor

Em 2000, iniciei a graduação em fisioterapia. Neste ano, um amigo de infância, Danilo, faleceu em um acidente. Ele estava cursando biologia e trabalhava com muita paixão com pesquisa na área de botânica. Na última vez que o vi, conversamos sobre isso. Em agosto, pouco depois de sua morte, procurei na faculdade algum laboratório para desenvolver pesquisa científica. A paixão com que este amigo me falou sobre pesquisa me contagiou. Foi aí que conheci o professor Cláudio Toledo.

Na UNICID, na época, existia apenas um laboratório onde eu poderia estagiar, o de neurociências. Fui até este laboratório conversar com o professor. Achei que teria uma entrevista, seria analisada, sei lá! Mas pelo contrário, o professor só quis saber minhas motivações e disse que para trabalhar com pesquisa era preciso "suor e sangue"! Me interessei!

Logo de cara, o professor me confiou um projeto novo do laboratório, sobre Urocortina. Fiquei animadíssima! Todos os intervalos e janelas de aula que eu tinha, eu estava no laboratório. Abrir aquela porta, ouvir o sino de vento tocar e sentir o cheiro que o lab sempre tem, me faziam sentir em casa!

Dois meses depois do começo da minha história com as ciências, ganhei a chave do lab! Pode parecer banal, mas foi um dia marcante! Lembro direitinho a cena do professor me chamando, "Cavani!", como ele sempre fazia, segurando uma correia de crachá amarela com uma chave na ponta. Foi emocionante!

Minhas pesquisas sempre deram certo! O professor sempre dizia que eu tinha o que um pesquisador precisava ter: sorte! E, eu respondia que não era sorte,era Deus que gostava de mim!

Ri bastante na sala do chefe (como também era chamado), mas também chorei bastante. Descobri que era bipolar na época do lab. Fui chorar com o professor. Tive várias idas e vindas ao lab. Sempre chorando na partida. Já prometi que nunca voltaria e chorei uns três dias por isto. Já voltei muito e sempre fui recebida com um grande sorriso e um "Bem-vinda, Cavani!".

Temia mais as broncas do chefe do que as dos meus pais. Elas eram silenciosas apenas com um olhar por cima das lentes dos óculos. Se ele falava, era apenas um "Cavani! Hum...". E isto já me tirava o chão e eu morria de vergonha e remorso por ter desapontado o professor.

Vive uma história de amor e ódio com o lab por 10 anos. Muito mais amor do que ódio, mas tivemos fases ruins. Mas sempre recebi o suporte do professor. O abraço, o incentivo. Ah! Vou sentir muita falta deste incentivo! Ele foi o mais importante da minha vida. O professor sempre acreditou em mim, mesmo no meio das minhas crises. Ele sempre confiou que eu podia mais.

Com ele, publiquei um artigo ainda na iniciação científica. Com ele, tive bolsa da Fapesp. Com ele, conseguiria bolsa para o mestrado, mas fiquei sabendo apenas quando contei para ele que estava saindo do lab para trabalhar com fisioterapia do trabalho. Fiquei muito brava com ele. Mas ele disse que não queria que isto influenciasse as minhas decisões. Sábio!

Vou sentir saudades desta pessoa maravilhosa que mudou a minha vida, em vida. Ainda é estranho e totalmente absurdo pensar que ele morreu. Pensar que não vou mais ouvi-lo falar "Cavani!", quando eu entrar no lab. Mas talvez, um pequeno consolo que tenho é o que o meu marido falou quando soube que o Cláudio foi embora: "Deus leva os bons, antes que lhes sobrevenha o mal."

Vai em paz, que a família seja consolada todos os dias, que os amigos nutram as saudades com os bons momentos e que um dia, possamos nos reencontrar e que eu possa ouvi-lo dizer "Bem-vinda, Cavani!"

De sua sempre aluna, Cavani.

Um comentário:

  1. Nossa Ju... você já deve imaginar com que cara estou né? rsrs
    Também é engraçado como cada pessoa recorda... as palavras que eram dirigidas a cada um... a frase que mais penso e que ele sempre falou pra mim quando ia a um congresso e teria que ficar por um tempo fora... "-Cuide do lab... cuide de todos!"
    ... broncas silenciosas... essas matavam... era melhor ele nos espancar né? uhauaha
    Que falta ele faz...
    Mas... tenha certeza, ele tá sentado lá na nuvem, com os pés em outra... braço cruzado na nuca, só observando... srsrs

    ResponderExcluir

Muito obrigada por passar por aqui!
Seu comentário será moderado antes da publicação. Se você não quer que ele seja publicado, avise. Se preferir, me envie um email com seu comentário, para conversarmos no privativo.