A experiência de amamentar...um plástico e como doar o seu leite

Dia primeiro de janeiro, um pouco menos de 48 horas após o parto, fui liberada para tiar o leite. Meu filho ainda estava em jejum, então, teria que ordenhar o leite e guardar para quando ele fosse liberado. Apesar de saber que não iria dar o peito ao meu filho, o que deve ser uma experiência única, fiquei animada para começar a estimular a produção.

Fui ao banco de leite do hospital às 9am. Recebida pela técnica em enfermagem, Valquíria, recebi todas as orientações de como fazer o processo. Primeiro, ao chegar no banco de leite deveria passaar álcool em gel nas mãos para começar a desinfectar. Depois, vestiria avental, touca e máscara e lavaria as mãos com uma bucha especial que tem na outra face uma escovinha. Essa lavagem precisa ser feita até os cotovelos (com a bucha) e nas palmas das mãos e unhas, usando a escovinha. De posse do pano verde, da ordenha e mamadeira, era hora de aprender realmente a tirar o leite.

Existem dois tipos de ordenha: a manual e a elétrica. No banco de leite existe a elétrica. Então, sentadinha à frente da máquina, um pouco ansiosa e louca para aprender mais sobre amamentação e ordenha, ouvi atentamente as orientações da Val. As primeiras instruções foram práticas: massagear o peito em círculos em direção à aréola; limpar os bicos e aréolas com algodnao molhado em água destilada e, por fim, a gotinha (espremer para sair uma gotinha que será desprezada).

Que emoção! Saiu a gotinha!!! Talvez os homens não entendam esta emoção, nem as mulheres que não tem e não pensam ainda em ter filhos. Ver brotar do seu próprio corpo o alimento exclusivo para seu filho, que vai suprir todas as necessidades dele por pelo menos 6 meses, é indescritível!

Após os três passos, era hora de colocar a ordenha no peito e iniciar a estimulação que consiste em três vezes de três minutos em cada peito. Alguém estudou e descobriu que desta forma o cérebro entende que a mãe está amamentando o bebê, então, inicia a produção de leite. Claro que no primeiro dia eu só molhei a ordenha! Não acumulei nadinha de nada de leite na mamadeira acoplada na ordenha. Mas não fiquei frustrada, este é o processo normal.

Acho que todas as mães deveriam usar uma ordenha para ver como funciona a amamentação. É importante saber que no começo não sai nada, mas isso serve, além de fazer o cérebro enviar sinais para iniciar a produção, para o bebê aprender a sugar. Imagina se o bebê aprendesse a sugar em um peito cheio de leite! Ele iria se afogar, chorar, e não ia aprender nada.

Fiquei muito feliz de poder fazer tudo certinho para preparar meu corpo para o Pedrinho. No segundo dia, eu estava de alta e poderia tirar o leite no hospital ou em casa. Como no horário da próxima retirada eu não tinha como ir para o hospital, utilizei uma ordenha manual. Foi um pouco caótico pois fomos do hospital direto para a casa de uns amigos para almoçar. O almoço demorou e o horário da ordenha chegou e eu tinha apenas a mamadeira fornecida.

Fiquei muito preocupada. Queria tirar o leite conforme fui orientada: de três em três horas, sem a necessidade de tirar de madrugada. Falei com meu pai que estava na hora e ele prontamente foi a uma farmácia e comprou uma ordenha manual e sabonete antibactericida. A dona da casa tinha touca e máscara e me emprestou duas toalhas. Fervi a ordenha (após ferver, para esterelizar, a ordenha fica quinze minutos ainda na água com o fogo ligado) e esperei ela secar sozinha (isto foi um parto, mas depois aprendi que é só sacudir assim que tirar da água que ela seca rapidinho sem usar pano). Lavei as mãos, me paramentei e comecei.

Usar uma ordenha manual exige força! Mulher que tira leite assim não tem flacidez nos braços, com certeza!!! Mas com a prática, fica mais fácil. Nesta primeira vez, com ordenha manual, acho que tirei uns 10mL de colostro. O leite retirado em casa precisa ser armazenado no freezer ou congelador e depois, levado congelado e bolsa térmica de plástico para o hospital.

Hoje, já tiro 50mL na ordenha manual e 80mL na elétrica. Fico muito satisfeita de ver que a estimulação funciona e que, querendo, qualquer mulher saudável consegue ter leite. Meu leite já foi pasteurizado pelo hospital e está à disposição do meu filho. Ele ainda está em jejum. Hoje será o último dia. Não vejo a hora de poder colocá-lo no peito, mas ainda vai demorar uns dois dias, já que o cirurgião quer ter certeza de que ele suga e precisa acompanhar a quantidade de volume que ele ingere, e isto, só usando uma mamadeira.

Toda vez que visito o Pedrinho ele faz bico procurando o peito. Não sei se é o meu cheiro, mas o bichinho está doidinho para mamar. Ele está com alimentação parenteral na veia, que garante a ele todos os nutrientes de que precisa, mas peito, nada substitui e até meu bebê de 7 dias sabe disso. Então, se você tem um bebê, amamente. Se você acha que seu leite secou, procure um médico ou outro profissional da saúde que entenda de amamentação e possa te ensinar a estimular a produção. Existem também remédios e chás próprios para isso. Não desista! E se você conhece alguma mãe que quer desistir de amamentar, tente encorajá-la. Hoje, eu amamento apenas um plástico mas já me sinto feliz pois sei que o que estou fazendo é em prol do meu filho e também em prol de outros bebês, pois autorizei a doação do leite que meu filho não precisar.

Se você tem interesse em doar o seu leite, entre em contato com um banco de leite. Eles geralmente dão todas as instruções necessárias, fornecem o frasco e retiram no local.

Clique e veja:

Endereços de hospitais com banco de leite
Hospital do Servidor Público geralmente tem estoque de leite baixo, saiba como ajudar

ps: a foto foi retirada do primeiro site linkado acima