quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Contrariada - estou confundindo este blog com jornalismo?

A decisão de fazer uma nova faculdade me motivou, não só a estudar para o vestibular, mas também a aprender mais sobre a área para ter certeza da escolha que estou prestes a tomar. Uma amiga muito querida, Yara Achoa, que é jornalista, me indicou o livro "A vaga é sua" da Ana Estela Pinto e Cristina de Castro, que fala exatamente sobre o mercado de trabalho do jornalismo e tudo o que envolve o processo para estar nele. Aproveitei o feriado que passou para ler este livro. Fiquei com algumas dúvidas no caminho e resolvi enviar um email para a escritora Ana Estela, que produz o blog Novo em Folha. A Ana logo respondeu às minhas duvidas, fez com que eu criasse outras, e pediu a autorização para publicar meu email e sua resposta no blog. Concordei.

Hoje, retornei ao blog e notei que haviam cinco comentários sobre o post do meu email. Um me chamou bastante atenção pois me atingiu profundamente. Segue o que a leitora escreveu: "Sérião: ter um blog e ser jornalista é uma coisa diferente pra caramba. Será que a Juliana não tá confundindo um pouco não? Tem hora na profissão que a última coisa que vc vai se preocupar é com a escrita e faz aquilo até de forma mais banal..." Pode parecer bobeira, mas meu coração disparou e me senti um tanto ofendida. Respondi (não vou lembrar exatamente as palavras, e ainda não foi publicado) que não estava confundindo, que sabia que eram coisas diferentes, e comentei que como fisioterapeuta também escrevia bastante, já que trabalhei com pesquisa centífica, cujo objetivo principal é a publicação de um artigo, ou seja, se for só para escrever, a fisio me basta. E, aproveitei para questioná-la sobre o jornalista acabar se preocupando por último com a escrita e fazê-la de forma banal...

Li e reli meu comentário diversas vezes. Não queria passar a imagem de que queria discutir, mas achei necessário me posicionar sobre o assunto, já que outras pessoas poderão ler o post e o comentário dessa pessoa. Achei "instrutivo" colocar a minha posição, pois afinal, outras pessoas na mesma situação que eu podem consultar o blog e ter dúvidas sanadas por estes comentários.

Mas, confesso, meu coração ainda está batendo forte. E, como estou em uma fase de analisar friamente todos os meus sentimentos (ficar sem remédio me fez começar a fazer isso) para tentar perceber se vou entrar em depressão ou surtar, fiquei questionando se fazia sentido um comentário assim causar tamanha reação. E, claro, cheguei a uma conclusão: estou fazendo a mesma pergunta que a leitora fez, para mim mesma. Será que estou confundindo este blog com jornalismo? Será que penso que jornalismo é ter esse prazer em escrever?

O livro da Ana e da Cristina mostra claramente que ser jornalista não é nada parecido com postar uns dois textos por semana sobre um assunto que super te interessa, sem nenhuma cobrança ou pressão. Sei também que se realmente decidir seguir essa carreira vou ser obrigada a escrever o que outros quiserem, e não o que eu desejar ou o que estiver na minha mente. Tenho certeza que terei momentos de pavor por causa da pressão e da cobrança e sei que posso até travar e ter "brancos mentais". Sou bipolar, sei muito bem o que é surtar!

A minha vida até aqui não foi difícil e escolher ser jornalista irá complicá-la em muito. A única pressão que tinha eram os prazos de relatórios do laboratório e da consultoria em ergonomia, somente ao final dos trabalhos, não diariamente. Hoje, não tenho pressão nenhuma. Só poderei defender o mestrado no ano que vem e ergonomia e gravidez não combinam (meu trabalho era o dia todo em pé). O que me sustenta hoje é meu trabalho na empresa da minha mãe, onde faço meus horários, sem nenhum superior.

Ou seja, burrice a minha querer trabalhar como jornalista? Ou será que realmente amadureci algumas idéias na minha cabeça e depois de muito pensar percebi que esta seria uma profissão que por mais que eu rale sei que chegarei em casa à noite (ou de manhã depois de um plantão) cansada de corpo, alma e mente, mas satisfeita por fazer algo que amo?

Deixo agora esta questão para fazer meu coração acelerar. E estou pensando seriamente em voltar para a terapia...

8 comentários:

  1. Oi, Ju,
    Tudo na vida tem o que a gente acha que é e o que realmente é. E jornalismo sempre teve sua aura de "glamour". Muita gente ainda pensa que pelo fato de você ser jornalista pode entrar em qualquer lugar e se sentir o tal (seja de que área for). Com o passar do tempo, a gente vai perdendo a "inocência" daquele sonho inicial da faculdade e da vontade de mudar o mundo e vê que a realidade é nua e crua. Outro dia na palestra do Tiago Leifert, ele bem prático falava: "deixem o romantismo de lado no jornalismo". No dia a dia tem o escrever coisas chatas (pra garantir a sobrevivência); tem alguém descaracterizar seu texto; tem a pressão; tem a tentativa frustrada de conseguir uma entrevista importante; tem o entrevistado não falar nada do que você precisava; tem o não reconhecimento profissional... Mas tem também o prazer; tem a troca de experiências; o sentir-se útil; o prestar serviços; o retorno sincero de um leitor, o reconhecimento por seu trabalho...
    Não acho que você esteja confundindo as coisas. Acho que você está buscando respostas e se exercitando. Gostar de escrever e escrever bem são habilidades muito desejáveis para quem quer ser jornalista. Faltam coisas? Sim, faltam. Mas percebo seu movimento de ir atrás. Pode ser que ao se deparar com a realidade nua e crua do jornalismo no dia a dia você veja que não era exatamente isso que queria. Mas, sinceramente, acho que seu coração já foi capturado. Vai precisar ralar, mas acho que está no caminho certo.
    Super beijo, futura colega!
    Yara Achôa

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  2. Ju,
    Sempre haverá alguém para falar algo contrário daquilo que vc pensa. Não se abale com o comentário de uma pessoa que vc nem conhece.
    Que bom que a fez pensar, pois acho que uma decisão bem pensada é sempre melhor. Mas se vc tem esse sonho e tem disposição para realiza-lo, vc deve ir atrás dele sim!
    EU adoro ler seus posts. Acho que vc escreve muito bem.
    E qualquer outro trabalho tem prazos e pressões.. é aí que faz a diferença gostar do que se faz!
    Bjos!

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  3. Foi publicado! Segue na íntegra o meu comentário e a resposta da querida Ana Estela.

    [Juliana Cavani] [http://gravidaebipolar.blogspot.com] [São Paulo, SP]
    Malu, o meu email aqui copiado não mostra tudo o que me levou a pensar em fazer jornalismo. Comentei sobre o Blog porque atualmente é o mais próximo de jornalismo que eu tenho (ou, ok, o mais próximo do exercício da escrita). Não estou achando que a carreira será algo como ter um Blog. Sei que são coisas distintas. Não estou confundindo. Aliás, escrevi muito como fisioterapeuta pois trabalhei basicamente com pesquisa científica e a publicação de artigos é o que coroa o meu trabalho. Uma dúvida que seu comentário me gerou: será mesmo que em um momento da carreira do jornalista ele irá se preocupar por último com a escrita e fazê-la de forma banal?

    08/09/2010 00:42

    RESPOSTA:
    Juliana, acho que não. O jornalista sempre vai se preocupar com o texto (pelo menos os que se prezam). Mas acho que a Malu, assim como eu fiz no começo, estava querendo alertar para o fato de que escrever, no jornalismo, é consequência, não causa. A nossa causa é informar, e pra isso temos que fazer um monte de coisas antes da hora de escrever. Mas acho que vc já sabe disso, não é? Abraço, Ana

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  4. vou te passar a minha experiência.

    eu prestei jornalismo porque eu sempre gostei de escrever, e era o que eu queria. passei na cásper líbero, fiz 2 anos. tranquei porque gostava das matérias que não eram sobre jornalismo, basicamente.

    a prática é MUITO diferente. é pressão, é ter que ir atrás de gente no meio da muvuca, pra pegar entrevista, depoimento, furo de reportagem. não ter vida direito, porque tem que ir para lá e para cá. fora que sempre ganha muito, muito mal (a não ser que você seja o william bonner). o mercado, além de saturado, deu uma caída com a questão da não-obrigatoriedade do diploma.

    pode ser que, mesmo com tudo isso, seu coração ainda bata. o meu deixou pra lá. deveria ter feito história, que tinha mais a ver.

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  5. Juliana

    Como já comentei contigo, leio teu blog sempre, aliás, todos os que você têm e a minha opinião é como leitora aqui e deve-se levar em conta também.

    Não acredito que está confundindo as coisas, muito pelo contrário. Gosto dos teus relatos, descrições detalhadas, enfim, mas creio que Jornalismo não é bem isso.

    Particularmente, gosto de ler textos bem escritos, não sou fã de forma alguma de uma "escrita mais banal". Ao menos, quanto ao meu blog me preocupo e muito com isso, escrever bem é um prazer pra mim e sinto que pra ti também.

    Quanto à todas as tuas dúvidas, você vive muito o futuro - é o que parece ao ler teus textos -, se preocupa com o que está lá, bem lá na frente e ainda não aconteceu. Exemplo: "Ou seja, burrice a minha querer trabalhar como jornalista? Ou será que realmente amadureci algumas idéias na minha cabeça e depois de muito pensar percebi que esta seria uma profissão que por mais que eu rale sei que chegarei em casa à noite (ou de manhã depois de um plantão) cansada de corpo, alma e mente, mas satisfeita por fazer algo que amo?".


    Por fim, gosto da forma que escreve, fica bastante claro o tema principal que quer passar pra quem lê.

    Acredito que você não precisa tanto de terapia não - quanto menciona -, já é bastante esclarecida quanto a muitas questões.

    Só colocar pensamentos no lugar e, primeiro de tudo: acreditar nas tuas metas e no que virá de bom em decorrência delas.

    Abração carinhoso.

    Teu blog é show, sempre fico emocionada.

    Manu

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  6. E, mais uma coisa que esqueci de dizer, muitas pessoas têm aptidões para diversas áreas: cursei Matemática na Universidade Federal de Pelotas, e meu Blog é sobre Arte...

    Beijocas

    Manu

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  7. Oi Juliana.

    Li seu relato no blog da Ana e estou passando pelo mesmo "problema" que você. Sou formada em Relações Internacionais e trabalho com finanças, é, escolhi uma profissão aonde não consigo campo para atuar. Há dois anos venho identificando em mim uma incrivel vontade de ser jornalista. Acabei lendo o outro livro da Ana: "Jornalismo Diário" que recomendo por abortar técnicas de jornalismo.
    Acabei de me inscrever no vestibular para ingressar na faculdade de jornalismo ano que vem e estou passando pelas mesmas dúvidas que você. Hoje me sustento com finanças e recomeçar uma carreira é apavorante, voltar a ser estagiário, ou pior, voltar a ganhar pouquissimo por mês me atormenta dia e noite mas não consigo deixar essa vontade de ser jornalista de lado, é quase que viciante pensar em quão feliz poderia ser nessa profissão.
    Te entendo completamente e concordo com a opinião de todos, mas penso sinceramente em uma coisa só " Se não tentar, vou me arrepender" e não quero me arrepender, não quero chegar aos meus sessenta anos e pensar como teria sido diferente minha vida SE tivesse tentado. Então respirei fundo e vou mergulhar de cabeça, se der certo, deu, e se não, pelo menos eu tentei.

    Bjos.

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  8. Ao anônimo: penso exatamente como vc mesmo! Medo, todos temos das coisas novas, mas acho que o pior, é o medo de no futuro, saber q vc vai olhar pra trás e se arrepender! Vamos em frente!!! Boa sorte para nós e q a gt seja muuuuito feliz como jornalista! Qual facul vc vai prestar? Acho q vou prestar no ano q vem, por causa do nascimento do Pedro. Se não, vou com pontos e vazando leite pra facul, deixando um peq lindo em casa!!!

    Obrigada pelo comentário!
    Abraços,

    Ju Cavani

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