Eu na estrada! |
Clarice Lispector soube me descrever quando disse "Tenho medos bobos e coragens absurdas". Essa sou eu. Medos bobos, e não tão bobos também, mas coragens absurdas.
Comecei a andar de moto ainda bem criança, quando não tinha idade certa para poder andar na garupa. Eu andava abraçada no tanque, na frente do meu pai. Enquanto ele levava meu irmão e minha mãe logo atrás. Os quatro na moto, todos de capacete! Há mais de vinte anos atrás. Não lembro da velocidade, não lembro do vento, não lembro da emoção. Mas lembro perfeitamente de ficar vendo meu reflexo na tampa do tanque. Via meu nariz, meus olhos e minha boca, todos tortos de um jeito engraçado. Eu me via e ria!
Há três anos voltei a andar de moto, na garupa do meu marido. Fiquei toda tensa! Um passeio de uns 10km me deixou toda dolorida! Cheguei no destino tremendo um pouco. Não tive medo, só um pouco de aflição ao passar entre os carros, mesmo em velocidade baixa. Depois não larguei mais! Passei a me entender com aquela garupa mínima e desconfortável. E toda oportunidade que eu tinha, eu pulava nela para dar um rolê!!!
Com o gosto por moto crescendo, surgiu a vontade de tirar a carta. Mas o marido não foi muito a favor da ideia a princípio e eu desanimei também. Afinal, eu não tinha necessidade de usar uma moto. Onde eu ia, precisava levar o Pedro. E, para o trabalho, eu usava o metrô. Mas o tempo passou, eu continuei a me interessar por moto e, desta vez, decidi que iria tirar a carta, independente do que os outros pensariam. Depois de três meses de aula, prova e burocracia, a carta chegou! Passei na prova com a viseira do capacete toda embaçada!!! Foi a maior alegria e alívio!!!
Há quase um mês, peguei uma moto maior e estrada, pela primeira vez. A sensação é indescritível. Não foi de adrenalina, igual quando vou na garupa do meu marido na estrada. Foi uma sensação de paz, um momento só meu, uma alegria "boba" de criança que consegue andar de bicicleta sem rodinhas pela primeira vez!
Parece que acontecia uma higienização mental enquanto pilotava na estrada! Foi mágico.
Pena que faz tempo. Agora é torcer para eu comprar uma moto só minha, mais leve e sair pelas estradas, pilotando com o maridão!